terça-feira, 24 de abril de 2012

Banco financia carro com documento falso, e taxista fica sem trabalho dias antes do casamento


Às vésperas de um dos momentos mais importantes de sua vida, o casamento, o taxista Wagner Paula Santos, 29, morador do Brás, região central da capital paulista, se vê impedido de trabalhar. Ele afirma ter ficado sem a CNH (Carteira Nacional de Habilitação) e o Condutax --documento que permite ao taxista dirigir--, o que o impede de exercer a profissão. A causa de tudo isso seria um erro da financiadora Aymoré, do banco Santander, que teria financiado um carro com documentos falsificados, em nome de Wagner.

De acordo com o taxista, que irá se casar nessa sexta-feira (27), tudo começou em setembro de 2011, quando ele foi sorteado pela Prefeitura de São Paulo e recebeu um alvará de taxista. Ao tentar financiamento na Aymoré, foi informado de que não poderia realizar a operação, pois já tinha outro financiamento em seu nome.

O taxista disse ter estranhado a informação, mas, como não tinha tempo a perder, já que a concessão do alvará da prefeitura tinha prazo, procurou financiamento em outro banco. Posteriormente, voltou a Aymoré para descobrir o que estava acontecendo e disse ter sido surpreendido com a informação de que havia, em seu nome, duas parcelas em atraso do financiamento de um carro Fiat Palio, ano 2005.

“Disse ao atendente que estavam enganados, que nunca comprei esse veículo. Ele me passou todos os dados da compra que fizeram usando meus documentos”, conta Wagner. Seguindo orientação da financiadora, o taxista registrou um boletim de ocorrência e redigiu uma carta de próprio punho esclarecendo a fraude.

Vinte dias depois, ainda segundo Wagner, a Aymoré teria informado que a fraude havia sido identificada. Ele, então, teria pedido uma carta da empresa comprovando a resolução do caso.

A carta enviada, afirma o taxista, dizia que Wagner havia “financiado e quitado um veículo” e, por esta razão, a financiadora estava dando baixa na dívida. “Fiquei indignado, mas, como o banco reconheceu a fraude, fiquei tranquilo."

Em março deste ano, nova surpresa: Wagner recebeu uma carta do Detran (Departamento de Trânsito) informando que ele perdera a habilitação por ter 48 pontos na CNH --o limite, de acordo com o Código Brasileiro de Trânsito é de 20 pontos. “Como eu já estava trabalhando de taxista, essa informação me deixava impedido de trabalhar."

Placa errada
Com a carta do Detran, o taxista percebeu que a placa utilizada pela financiadora para dar baixa no financiamento fraudulento estava errada. “Mesmo com todo o processo em mãos e após o banco ter reconhecido o erro, não identificaram que a placa não era a mesma."

Na época, conta Wagner, um investigador da polícia entrou em contato para dizer que a placa informada pela financiadora era de um caminhão. “Só descobri que eles estavam procurando o veículo errado após receber a carta do Detran. Enquanto isso, o fraudador estava levando multas pela cidade de São Paulo.”

O taxista conta que fez outro boletim de ocorrência retificando a placa e entrou em contato com o banco. Desta vez, afirma, a financiadora pediu que ele procurasse um despachante e resolvesse a situação com o Detran. Wagner diz que desembolsou R$ 150 com o despachante, que lhe deu um prazo de 15 dias para ter uma resposta.

“Ao passar o prazo, fui até o Detran para pegar o resultado e fui surpreendido ao saber que o processo estava bloqueado, pois haviam achado o veículo”, lembra. Wagner diz ter ido a três delegacias para conseguir o boletim de localização do carro. Os policiais orientaram o taxista a procurar novamente o Detran.

No último dia 12, Wagner foi ao Detran e soube que a pontuação na sua CNH havia aumentado para 64 pontos. “Descobri que minha CNH estava definitivamente bloqueada, o que me impede de trabalhar, renovar a carteira de motorista e o Condutax [que vencem este mês]." O Detran o orientou, novamente, a procurar o despachante e fazer outro recurso, segundo Wagner.

“Ganhei meu alvará em um sorteio, mas estou impedido de trabalhar por causa de um erro do banco Santander e agora irei perder meu Condutax. Estou sem trabalhar, com um financiamento para pagar e a poucos dias do meu casamento”, reclama o taxista.

Outro lado
Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa da instituição financeira afirmou que “tomou todas as providências necessárias na ocasião quando soube dos fatos [da fraude]”. Em relação à pontuação, diz que orientou Wagner quanto aos procedimentos necessários a serem adotados “exclusivamente por ele” junto ao Detran. “A financeira continua à disposição para apoiá-lo no que for necessário”, afirmou o Santander, em nota.

À reportagem do UOL, o Detran afirmou que o taxista deve apresentar recurso junto ao setor de pontuação, com documentos que comprovem que as multas foram cometidas por um veículo adquirido por meio de estelionato e os boletins de ocorrência. O órgão pede ainda uma declaração da financeira reconhecendo o crime do qual o taxista teria sido vítima.

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