Má notícia para os grandes clubes de São Paulo, além do Corintians: o Ministério Público do Estado de São Paulo informou em nota oficial que os quatro clubes da capital paulista terão de oferecer contrapartidas sociais para uso dos terrenos públicos, cedidos para construção de estádios ou centros de treinamento.
Palmeiras, Portuguesa e São Paulo também estão na mira da Promotoria de Habitação e Urbanismo. O Corinthians usa o espaço do Itaquerão desde 1988 e nunca ofereceu contrapartida social por isso.
Para ter direito à concessão de uso real (CDRU) do terreno municipal, onde está sendo construído o Itaquerão, estádio que deve abrir a Copa 2014, o Corinthians deve quitar débito de R$ 12 milhões, realizando obras sociais de valor correspondente na região, sob pena de perder a cessão.
Em reportagem publicada com exclusividade pelo UOL Esporte, o Corinthians assumiu o débito de R$ 12 milhões junto à Prefeitura. Esse débito se refere à contrapartida social por uso de terreno público e poderá ser quitado em parcelas.
O descumprimento desse acordo judicial, firmado em maio de 2011, dá direito à prefeitura de retomar a área cedida. Mais que isso, a lei que cedeu o terreno em 1988 já estabelecia a retomada do lote, caso as obrigações fossem descumpridas pelo concessionário (Corinthians).
ACORDO JUDICIAL ENTRE CORINTHIANS, PREFEITURA E MINISTÉRIO PÚBLICO
valor | refer. p/ cálculo | prazos para pagamento | forma de pagamento |
R$ 12 milhões | R$ 300 mil/mês | R$ 4 mi (entre 5/2011 e 12/2014) e R$ 8 mi (entre 1/2015 e 12/2019) | obras sociais auditadas |
Embora o vencimento do prazo de pagamento da primeira parcela (R$ 4 milhões) seja dezembro de 2014, o fato é que nem sequer os projetos de tais obras sociais foram enviados para aprovação da Prefeitura de São Paulo.
Diante da falta de cobrança por parte da prefeitura, a Promotoria de Habitação e Urbanismo entrou em cena mais uma vez para fazer valer o acordo de 2011, que prevê a retomada do terreno em caso de falta de pagamento.
A assessoria do prefeito Gilberto Kassab não respondeu ao questionamento feito pela reportagem.
Tudo começou em 1988, com o prefeito Jânio Quadros
A retomada do terreno estava prevista desde a concessão de direito real de uso (CDRU), assinada pelo prefeito Jânio Quadros, em setembro 1988. Pela lei 10.622, que cede o terreno, o clube estava obrigado a construir o estádio, em quatro anos, após aprovação do projeto. O projeto deveria ter sido apresentado até setembro de 1989.
O caso gerou uma CPI municipal, em 2001, que concluiu pela ilegalidade da concessão de direito real de uso e daí surgiu o interesse do MPE, que abriu uma ação civil pública para investigar a concessão.
Para colocar fim a esse processo, o MPE propôs um acordo judicial que foi assinado em maio de 2011, onde as contrapartidas foram aceitas, no valor de R$ 12 milhões, calculados e parcelados, da seguinte maneira: R$ 300 mil por mês, durante 48 meses, totalizando R$ 12 milhões.
A nota da Promotoria de Habitação e Urbanismo confirma que já abriu ações judiciais também contra Portuguesa e Palmeiras, exigindo contrapartida social por uso de terreno público. A ação contra o São Paulo ainda não foi encaminhada, “mas os primeiros passos já foram dados”, segundo informou a assessoria de imprensa do MPE.
Segundo a nota do MPE, as contrapartidas pecuniárias (em dinheiro) ou sociais (obras sociais) são devidas por parte de todos os clubes que usam terrenos da prefeitura. O caso corintiano está sendo analisado pelo promotor de Habitação e Urbanismo José Carlos Freitas.
Como UOL Esporte noticiou com exclusividade, a quitação do débito corintiano com obras sociais auditadas por empresa independente será feita da seguinte maneira: 1/3 (R$4 milhões) deverá ser pago até o dia 31 de dezembro de 2014. O restante da dívida (2/3 ou R$ 8 milhões) deverá ser pago entre janeiro de 2015 a dezembro de 2019.
A nota é clara quanto à exigência de contrapartidas e a viabilidade de retomada das áreas cedidas, “desde sempre”.
“A retomada do terreno público é viável desde sempre, e nunca dependeu do acordo homologado para ser implementada pelo prefeito. Cumpre finalizar que outros terrenos públicos foram cedidos para o uso de clubes de futebol da Cidade de São Paulo sem que qualquer contrapartida em dinheiro tenha sido exigida até hoje, como é o caso do São Paulo Futebol Clube e da Sociedade Esportiva Palmeiras (onde funcionam seus centros de treinamento, na Barra Funda, e as contrapartidas sociais nunca foram cumpridas), e da Associação Portuguesa de Desportos (cujo estádio, em parte, foi construído em área pública, sem contrapartida pecuniária ou social). Em relação a esses outros casos, o MP também já vem adotando as providências cabíveis”.
A Promotoria de Habitação e Urbanismo confirmou outros pontos do acordo de 2011:
“O anunciado acordo feito em maio de 2011, e homologado por decisão judicial, estabeleceu que o Sport Clube Corinthians Paulista, pelo uso do terreno sem ter construído o estádio a tempo e modo até aquela data, deveria pagar contrapartidas sociais no importe de R$ 12 milhões. Essas contrapartidas têm fundamento na Lei Municipal nº 14.652/07. Não há parcelas mensais a serem pagas pelo Corinthians, ao contrário do que noticiou a matéria jornalística, nem o acordo integra os custos do estádio”.
A lista de ações sociais encaminhadas pelo Corinthians consta de “relatório de 300 páginas, encaminhado à Prefeitura, em novembro de 2011”, explicou a assessoria de imprensa do clube, por email.
Mas há uma contradição nesse aspecto: pela nota do MPE, esse relatório ainda não está concluído: “... o Corinthians confirmou estar finalizando relatório sobre as atividades sociais que já desenvolve, independentemente do acordo firmado, para fins de estabelecer outras modalidades”.
O vice-presidente do Corinthians Luiz Paulo Rosenberg, um dos gestores do projeto do Itaquerão, está na China, segundo a assessoria de imprensa, e “não poderia falar sobre o assunto”.
A assessoria da Secretaria de Urbanismo da prefeitura não respondeu ao pedido de esclarecimentos feito pela reportagem, sobre o tipo de obras sociais que o clube está obrigado a realizar para quitar o débito (parcelado) de R$ 12 milhões.
A nota oficial do MPE confirma que nem sequer o tipo de obra social foi estabelecido pela Prefeitura de São Paulo, um ano após a assinatura do acordo judicial:
“Considerando que o Corinthians e a Prefeitura de São Paulo não haviam definido ainda que contrapartidas sociais o Clube deve cumprir, desde a assinatura do acordo, há quase um ano, a Promotoria de Justiça de Habitação e Urbanismo convocou reunião no último dia 12.04.12, na qual a Prefeitura disse ter regularizado uma portaria que criou comissão para discutir as contrapartidas. Já o Corinthians confirmou estar finalizando relatório sobre as atividades sociais que já desenvolve, independentemente do acordo firmado, para fins de estabelecer outras modalidades”.
O Itaquerão está orçado em R$ 820 milhões. A arena será da Odebrecht e da BRL Trust até a quitação final do financiamento (R$ 400 milhões junto ao BNDES), prevista para 2027. Para fechar a conta e pagar a construção, a Odebrecht/BRL Trust venderá no mercado os títulos municipais emitidos pelo prefeito Gilberto Kassab, no valor de R$ 420 milhões. O empréstimo ainda não foi aprovado pelo BNDES.
Fonte: UOL Copa do Mundo
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