Rafael Figueiredo, 13 anos, perde parte do dinheiro em caso de deslize.
Especialista vê com ressalvas uso da mesada como forma de orientação.

A vida de Rafael Figueiredo, de 13 anos, mudou radicalmente há pouco mais de um ano. O menino, que morava com a mãe no Rio de Janeiro, se mudou para o centro de Porto Alegre no final de 2010 para viver com o pai, o arquiteto Marcelo Figueiredo, de 44 anos. Na capital gaúcha, ele teve de se adaptar a um novo sistema de ganhar mesada: os R$ 15 semanais que recebe sofrem descontos caso ele cometa algum deslize. “Por mim, ele me daria R$ 50 por semana, mas acho importante ele me dar este limite”, reconhece o menino.
(Na série Dinheiro na mão de crianças, o G1 mostra como os pais fazem para explicar situações econômicas do dia a dia para os filhos.)
Marcelo não exige que o filho faça tarefas domésticas. Porém, se ele deixar algo fora do lugar, perde R$ 1. “Eu ganho todo o valor se mantiver a casa arrumada. Não preciso arrumar, é só não bagunçar. Se eu deixar copos e pratos espalhados, perco R$ 1. E se não fizer o dever de casa, é um pouco mais”, explica Rafael.
A preocupação com os estudos se deve à dificuldade que Rafael enfrentou para se adaptar à exigência da nova escola. O menino conta que no Rio de Janeiro estudava em uma escola com média mais baixa. “Saí de uma escola muito fraca”, reconhece. O fato de ser novo na classe também dificultou a vida escolar do menino, que era visto com ressalvas pelos colegas do Colégio Rosário. Mas no segundo ano na capital gaúcha, ele garante que a situação está mais tranquila. “Agora já melhorei bastante. Estou me socializando e me adaptando melhor”, garante.
Incentivador dos estudos, o arquiteto estipula regras mais rígidas no controle da mesada quando o assunto é a escola. Um aviso de algum professor, de que ele tenha deixado de realizar alguma tarefa, tira R$ 2 dos R$ 15 semanais. E uma nota baixa em alguma prova deixa o menino sem a mesada.
Por outro lado, o adolescente tem a chance de aumentar o valor. “Se ele lavar a louça, ganha R$ 1 ou R$ 2, dependendo do volume da louça. E se tirar todas as notas acima de 7 também”, afirma o pai.
Rafael ressalta que o dinheiro da mesada não inclui despesas do dia a dia e programas feitos com o pai. “Cinema, lanche, coisas assim o meu pai paga. Minha mesada é para eu comprar coisas para mim”, conta.
O menino, que gosta de ler, ouvir música e assistir à televisão nas horas vagas, gasta a maior parte do valor da mesada com revistas especializadas em ciência. Ele reconhece que o sistema o ensinou a economizar mais. Mesmo que isso exija um grande esforço. “Quando eu vou ao shopping, nada me segura. Tem vezes que eu respiro fundo e me controlo para não gastar tudo. E consigo, mas dói um pouco”, conta.
O aprendizado do filho é visível para Marcelo. “Vejo que ele dá bastante valor e economiza. Às vezes me pede um troco a mais, da passagem de ônibus ou da merenda, para guardar”, explica o pai. Para os dois, o mais importante é ter honestidade.
Diálogo para orientar
A psicopedagoga e especialista em orientação educacional Paula Falcão Cruz vê com ressalvas a utilização da mesada como instrumento para a orientação. “O importante é que a criança perceba o sentido do que está sendo negociado, que se não fizer os deveres ela vai sair prejudicada, e que a bagunça vai gerar desconforto para todos. Colaborar com as tarefas domésticas é obrigação de todos que convivem em um espaço comum”, disse ao G1 a profissional.
A orientadora educacional recomenda que os pais apostem nos diálogos para orientar crianças e adolescentes. “O fundamental é que os adultos sejam persistentes e pacientes, explicando às crianças a importância de sua contribuição nas regras firmadas”, destaca.
Fonte: G1
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