Corinthians e Chelsea terão que passar por adversários difíceis na semifinal do Mundial de Clubes da Fifa, mas são as equipes mais cotadas para fazer a final da competição que começa em 6 de dezembro. Caso o confronto seja mesmo confirmado, será o quinto encontro entre times brasileiros e ingleses em Mundiais, contanto desde o tempo em que o torneio se chamava Copa Intercontinental ou Copa Toyota (1960 a 2004) até a última edição, em 2011, já com chancela da entidade máxima do futebol. E os sul-americanos têm boa vantagem: três vitórias e uma derrota.
O primeiro encontro aconteceu em 1981, quando o Flamengo venceu o Liverpool com grande atuação de Nunes e Zico. O mesmo Liverpool foi derrotado pelo São Paulo na edição de 2005, com gol de Mineiro e defesa histórica de Rogério Ceni. Os outros dois confrontos entre brasileiros e ingleses foram contra o Manchester United: Palmeiras e Vasco (em 1999 e 2000, respectivamente) enfrentaram a equipe comandada por Sir Alex Ferguson, com derrota dos paulistas e vitória dos cariocas.
O UOL Esporte conversou com jogadores que estiveram em todos esses confrontos e ouviu histórias sobre as batalhas contra os ingleses em Mundiais de clubes. Relembre como foram os jogos:
13 de dezembro de 1981
Liverpool 0 x 3 Flamengo
Estádio Nacional de Tóquio, no Japão
Esperava-se uma partida difícil entre europeus e sul-americanos no Estádio Nacional de Tóquio, mas o que se viu foi um verdadeiro passeio rubro-negro sobre o forte time do Liverpool, que tinha em sua escalação dos dos maiores ídolos do time inglês: Terry McDermott e Kenny Dalglish. Com dois gols de Nunes e um de Adílio, o Fla venceu por 3 a 0 e conquistou o Mundial pela única vez em sua história.
Jogando com sua maior formação em todos os tempos (Raúl; Leandro, Marinho, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio, Tita e Zico; Nunes e Lico), a equipe de Paulo César Carpegiani venceu por ter entrado em campo respeitando o adversário, segundo Nunes. O Liverpool havia chegado ao Mundial após vencer o poderoso Real Madrid na final da Liga dos Campeões, enquanto o Fla superou o Cobreloa em uma final histórica de Libertadores.
"Lembro bem daquele jogo. Todo brasileiro lembra... Foi a maior conquista da história do Flamengo, até hoje é o maior título. É tipo ganhar uma Copa do Mundo", diz Nunes, que destaca a atenção dada pelo time rubro-negro ao jogo: "Era impressionante a simplicidade e o profissionalismo do nosso grupo. Respeitamos muito o adversário, mas jogamos sempre com seriedade e responsabilidade", destaca o artilheiro.
De acordo com o camisa 9, inclusive, o Flamengo teve uma dificuldade extra para o jogo: a falta de conhecimento do adversário, algo que já não existe mais no futebol atual.
"Não existiam essas facilidades de hoje para conhecer adversários de outro país. Se existisse internet e TV naquela época como existe hoje, teríamos chegado sabendo tudo deles. A única coisa que a gente sabia era que ia enfrentar o campeão da Europa, e que, se tinha sido campeão, é porque era bom. Mas a gente também era bom, porque era campeão brasileiro e sul-americano, e deu tudo certo para fazer o Fla campeão do mundo", ressalta Nunes, que, apesar dos dois gols, não foi eleito o melhor jogador da partida contra o Liverpool - Zico ganhou o prêmio.
30 de novembro de 1999
Manchester United 1 x 0 Palmeiras
Estádio Nacional de Tóquio, no Japão
O Palmeiras do técnico Luiz Felipe Scolari e da Parmalat vinha conquistando título atrás de título, mas foi parado por 1 a 0 pelo Manchester United no Mundial de 1999, naquela que foi a única derrota de um brasileiro para um inglês na competição. Na partida que ficou marcada pela falha de Marcos no lance do gol de Roy Keane, o time paulista teve muitas chances de vencer, como recorda o ídolo palestrino Evair.
"Nossa confiança em vencer era tanta que já no início do jogo criamos várias oportunidades. O Alex (camisa 10 da equipe) teve uma chance muito boa, mas preferiu dar uma 'cavadinha' e perdeu. Depois, no segundo tempo, fez um gol legal, que o árbitro anulou. Ainda tivemos chances de cabeça, com o goleiro batido... Podia ter sido totalmente diferente", lamenta o ex-atacante, que ficou com o gol do Manchester marcado na memória: "Era uma bola tranquila... O cruzamento não foi lá essas coisas, mas acabou tendo a falha do Marcos...".
Evair ainda se diz triste pelo fato da taça do Mundial ter ficado com uma equipe que não deu devido reconhecimento ao torneio. "Enfrentei times mais difíceis que o Manchester pelo Palmeiras, como o Boca Juniors de 1994, que era um absurdo. Eles (Manchester United) chegaram ao Japão três dias antes do jogo, colocaram um goleiro reserva, nem davam tanta bola para o jogo. Para nós, a importância do jogo era muito grande, mas, infelizmente, falhamos", diz.
Para o ex-camisa 9, o título perdido do Mundial de clubes teria servido para fechar uma grande temporada do Palmeiras, que havia vencido a Libertadores com direito a eliminação do rival Corinthians nas quartas de final.
"Ser campeão do mundo te dá um prestígio enorme, é um outro nível de competição. Os times brasileiros aprenderam, depois que o São Paulo começou a ganhar, a dar a devida importância a esse torneio. Se tivéssemos vencido, teria fechado com chave de ouro aquele ano", afirma Evair, que entrou no segundo tempo da derrota para o Manchester United, no lugar de Galeano.
8 de janeiro de 2000
Vasco 3 x 1 Manchester United
Maracanã, no Rio de Janeiro
O primeiro Mundial de clubes organizado pela Fifa colocou Vasco e Manchester United no grupo B da competição, que aconteceu no Rio de Janeiro. O encontro entre os campeões da Libertadores 1998 e da Liga dos Campeões 1999 acabou 3 a 1 para os cariocas e ficou marcado na história, principalmente pelo golaço de Edmundo, que deu drible espetacular no zagueiro Silvestre antes de mandar para as redes.
Presente na defesa que segurou o forte ataque formado por Yorke e Solskjaer, o ex-zagueiro Mauro Galvão classificou esta partida como "uma das grandes lembranças" de sua carreira. De acordo com Galvão, o Vasco foi superior aos ingleses durante toda a partida, e conquistou a vitória com méritos - a partida, no caso, foi válida pela segunda rodada da chave.
"Lembro que jogamos contra a equipe considerada a melhor do mundo naquele momento. Ganhamos bem, o Edmundo fez um golaço. Comandamos a partida durante todo o tempo. Eles sabiam jogar, mesmo sem o Beckham (não atuou), mas foi uma partida em que eles sentiram um pouco o clima, o calor. Foi muito importante, pois deu moral ao Vasco para chegar até a final. É uma das grandes lembranças da minha carreira", disse o ex-zagueiro.
Mauro Galvão também refutou a tese de que o Manchester United teria vindo "a passeio" ao Rio de Janeiro. Imagens da época mostram os jogadores da equipe inglesa mais preocupados com o bronzeado à beira da piscina do que com os jogos do Mundial, mas Galvão diz que ninguém entrou na competição apenas para participar.
"Sempre existe os comentários de que eles vieram aqui para turismo, mas isso não aconteceu. Não deixamos eles jogarem. O Real Madrid por pouco não chegou na decisão, acabou perdendo para o Corinthians. Isso não existe e nem sequer pode ser dado como desculpa. Todo mundo quer ganhar um Mundial", rebateu.
18 de dezembro de 2005
São Paulo 1 x 0 Liverpool
Estádio Internacional de Yokohama, no Japão
O mais recente encontro entre brasileiros e ingleses em Mundiais de clubes aconteceu em 2005, quando São Paulo e Liverpool se enfrentaram na final da competição da Fifa. Com gol do volante Mineiro, o elemento surpresa do time tricolor, a equipe do técnico Paulo Autuori venceu por 1 a 0 e conquistou o planeta pela terceira vez em sua história. Mas para o ex-atacante Amoroso, que formou a linha de frente são-paulina ao lado de Aloísio "Chulapa", outro lance ficou marcado na memória.
"Lembro desse jogo como se fosse hoje. O Liverpool vinha numa fase imbatível, há vários jogos sem perder, não levava gol de ninguém. Mas a gente sabia que tinha um elemento surpresa pra entrar na defesa deles, e o Mineiro acabou achando aquele gol. Mas o que marcou mesmo desse jogo foi o Rogério Ceni fazendo uma das partidas mais impressionantes que eu já vi", conta Amoroso, citando a defesa do capitão em chute que Gerrard mandou no ângulo, em cobrança de falta no segundo tempo.
Amoroso também cita os três gols do Liverpool anulados pelos assistentes Héctor Vergara e Arturo Velázquez durante a partida - nos três lances, os impedimentos foram marcados de forma correta. Segundo o ex-atacante, porém, os lances foram "milimétricos", o que poderia ter deixado os bandeiras em dúvida. A sorte, no entanto, estava do lado tricolor, de acordo com o então camisa 11.
"Depois que fizemos o gol, jogamos de maneira muito defensiva, lutando pra não tomar gol, segurando aquele 1 a 0 de todo o jeito. Os caras ainda tiveram aqueles três gols impedidos anulados, era muita pressão. Mas a gente sabia que o momento era nosso. Qualquer um daqueles impedimentos milimétricos poderia ter passado batido pelo bandeira, eles podiam ter marcado gol em qualquer um. A gente viu que a sorte estava do nosso lado", lembra.
Amoroso, aliás, é outro que refuta a tese de que os europeus não dão importância ao Mundial de clubes: "Eles jogaram tudo o que sabiam, porque ninguém entra no jogo querendo perder. Eles tinham que honrar a camisa dele, pois o Liverpool é um grande time. No final, é só ver a cara que o Gerrard ficou, chatedo, lamentando a derrota. Ninguém entra em competição sem pensar em ganhar, isso não existe. Jogador não quer perder nem pelada. Mas o brasileiro dá mais atenção, sem dúvidas", opina.
EX-JOGADORES SE DIVIDEM SOBRE FAVORITISMO DO CORINTHIANS NO MUNDIAL
Se o esperado encontro entre Corinthians e Chelsea de fato acontecer, o Mundial de clubes terá uma final imprevisível. Essa é a opinião dos ex-jogadores ouvidos pelo UOL Esporte para a reportagem. O único que mostra mais confiança na conquista corintiana é Amoroso, que dá até a porcentagem de chances da equipe do Parque São Jorge conquistar o título pela segunda vez na história. Apesar disso, o ex-atleta reconhece que os jogadores brasileiros do Chelsea podem atrapalhar os planos do Timão.
"Quando jogamos (pelo São Paulo) contra o Liverpool, eles só tinham um brasileiro no time, que era o Fábio Aurélio, mas ele estava machucado e nem jogou. O Chelsea tem jogadores de seleção brasileira, o Ramires, o Oscar e o David Luiz, que vão estar com muita vontade de ganhar, e isso pode dificultar as coisas. Mas acredito no Corinthians, está mais preparado para a competição, e o Chelsea vem em fase ruim. Para mim, o Corinthians tem 75% de chances de ser campeão. Ficarei na torcida", declara.
Outro que declarou torcida pelo alvinegro paulista foi Nunes, que quer ver o futebol brasileiro conquistar o mundo novamente - o título verde e amarelo veio em 2006, com o Internacional vencendo o Barcelona. "Vou torcer para o Corinthians, que pode valorizar o futebol brasileiro. Mesmo sendo flamenguista, quero mais é que o futebol brasileiro cresça". Bem ao contrário de Nunes, Evair vai na onda do Chelsea: "Mesmo porque se alguém ouvir falar que eu estou torcendo pro Corinthians, não vai acreditar", brinca.
Já Mauro Galvão vê muita igualdade em um possível Corinthians x Chelsea, mas aposta na "habilidade" brasileira para desequilibrar o confronto: "É muito difícil (prever resultado). São dois times que nunca se enfrentaram. O Corinthians vive um momento muito bom, o Tite é um grande treinador, trabalhamos juntos. Se vai ganhar é difícil saber, pois depende muito das condições lá no Japão, lesões, tudo isso. Mas sempre vejo os times brasileiros em vantagem pela habilidade dos nossos jogadores", diz.