sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Mulher espera atendimento médico dentro de armário no Hospital de Clínicas de Porto Alegre

O acúmulo de macas, a falta de espaço para a circulação dos profissionais e o elevado número de pacientes aguardando leitos sentados em cadeiras - alguns há mais de 24 horas - traduzem a agonia das emergências dos principais hospitais públicos de Porto Alegre. Na manhã desta sexta-feira (15), o retrato do caos foi uma cena flagrada no serviço de emergência do Hospital de Clínicas.
Uma paciente se acomodou dentro de um armário localizado em um corredor repleto de macas e cadeiras. Questionada sobre o motivo de estar ali, a mulher respondeu: "Não tem lugar para sentar, por isso sentei aqui dentro".

Enfermeiros foram alertados e, em pouco tempo, encontraram uma solução para o problema. A mulher saiu do armário e foi colocada em uma cadeira, apesar de seu estado de saúde pedir repouso absoluto. No mesmo momento, em outra ala, a enfermeira-chefe  vivenciava o mesmo dilema.

- Tenho 11 pacientes graves que estão internados há mais de dez dias no serviço e, entre eles, tenho que escolher os nove que terão direito de seguir para uma enfermaria.

O serviço de emergência das Clínicas abrigava nesta sexta 131 pessoas em espaço projetado para apenas 49. O emaranhado de cadeiras e macas dificultava o acesso aos pacientes. Um operário de 36 anos, com suspeita de aneurisma cerebral e que permanecia por mais de 12 horas sentado, disse que o lugar é um "campo de concentração". A enfermeira-chefe concorda com ele. O administrador do serviço, Daniel Barcelos, frisou que é preciso criar leitos para a internação clínica na região metropolitana.

No hospital Nossa Senhora da Conceição, o quadro não era diferente, com 128 pacientes amontoados em espaço idealizado para 50. O superintendente do Grupo Hospitalar Conceição, Neio Lúcio Fraga Pereira, afirmou que a superlotação é um sintoma de que o sistema de saúde não está bem.

- A estratégia de saúde da família é deficiente na região metropolitana.

De acordo com Pereira, as emergências agonizam em razão da falta de médicos na rede pública e da demora na marcação de exames de média e alta complexidade por meio do SUS (Sistema Único de Saúde).

- É um sistema perverso, que penaliza uma população que envelhece sem assistência. A partir de 1993, 33% dos leitos da capital fecharam.

Enquanto isso, o hospital Beneficência Portuguesa tem leitos sobrando. Dos 79 espaços, apenas um está ocupado por um paciente que saiu da UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Desde a quarta-feira passada (13), o hospital voltou a receber doentes pelo SUS, após ficar quase dois meses sem atendimento.

Fonte: R7

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